Incrível mundo da pós-modernidade
onde cada vez mais temos maior quantidade de relações e menor qualidade destas.
Hoje em dia, no ritmo acelerado da vida quotidiana, tudo vai passando
despercebido e tudo fica conhecido aos nossos olhos de forma superficial. Existe uma superabundância de acontecimentos e uma superabundância de
espaços. Facilmente através dos
meios de comunicação social, conseguimos ter informações sobre várias
partes do mundo, pessoas e acontecimentos, o que nos dá uma falsa familiaridade de que as
conhecemos mesmo quando conhecemos apenas através do ecrã.
Contudo, as relações humanas são menos profundas pois apesar de existirem muitas “conexões”, existem poucas “relações”
verdadeiras com quem saibamos que possamos contar. Deste modo, as pessoas sentem
cada vez mais a solidão dado esta aparente falta de relações significativas que são
essenciais para a constituição da identidade pessoal de cada um. Segundo
Marc Augé tal deve-se há existência de demasiados não lugares, isto é,
lugares por onde passamos mas que não têm uma identidade pessoal
concreta (p.e. centros comerciais, transportes públicos, etc). Ou seja,
grande parte do nosso dia-a-dia comunicamos com pessoas que raramente
voltamos a ver novamente e passamos por locais onde as pessoas vão
variando ao longo dos dias. Neste sentido, estamos numa multidão mas
somos anónimos nessa mesma multidão.
Esta tal solidão sentida perante a multidão acontece porque para uma relação humana ser
significativa deve existir uma profundidade que permita conhecermos a outra
pessoa verdadeiramente, sabermos que podemos contar com ela e que ela pode
contar connosco. Hoje em dia, são mais as relações que temos do que aquelas com
que podemos contar e é isso que faz este mundo da pós-modernidade um dos mais ilusoriamente
conectados. Ainda assim, a capacidade de nos adaptarmos ao mundo
exterior é aquilo que é mais importante pelo que os meios de comunicação social se forem utilizados no sentido de promover as relações sociais podem ser benéficos para estas e não apenas vistos como destruidores destas mesmas relações significativas.
Este fenómeno começa a ser estudado pelos antropólogos, psicólogos e sociólogos sendo que existem inclusivamente algumas pessoas (p.e. Emily White) que referem que esta nova forma de vida se pode tornar patológica e que é importante distinguir entre o que é uma depressão ou o que é a solidão por falta de laços pessoais significativos. Isto é, enquanto indivíduos identificamo-nos com a sociedade a que
pertencemos pelo que invariavelmente as suas características vão
influenciar-nos e são influenciadas por nós. Deste modo, considero importante estarmos atentos a esta nova forma de vivência onde apesar de estarmos todos conectados existe uma falta de ligações essenciais e verdadeiras. Claro que isso depois envolve outros factores como por exemplo, a necessidade que uma determinada pessoa tem de ter essas tais ligações. Há pessoas que são extrovertidas e que precisam portanto de mais ligações enquanto que outras são mais introvertidas pelo que apesar de precisarem de ligações são personalidades que facilmente se sentem bem sem ter demasiadas relações.
Concluindo, parece então importante estarmos atentos a esta nova realidade que advêm da globalização e promovermos interacções verdadeiras dando menos importância à quantidade e promovendo a qualidade relacional. Sendo por outro lado importante compreender que esta nova realidade pode estar por detrás das questões de depressão que surgem na prática clínica sendo então este um dos motivos que devemos estar atentos para compreendermos a situação específica que está a ocorrer. Claro que esta não pode ser uma perturbação mental pode é ser um dos factores ambientais que poderão culminar em perturbações mentais ou que pode ser promovida por determinadas perturbações mentais.
Concluindo, parece então importante estarmos atentos a esta nova realidade que advêm da globalização e promovermos interacções verdadeiras dando menos importância à quantidade e promovendo a qualidade relacional. Sendo por outro lado importante compreender que esta nova realidade pode estar por detrás das questões de depressão que surgem na prática clínica sendo então este um dos motivos que devemos estar atentos para compreendermos a situação específica que está a ocorrer. Claro que esta não pode ser uma perturbação mental pode é ser um dos factores ambientais que poderão culminar em perturbações mentais ou que pode ser promovida por determinadas perturbações mentais.
Convém ainda referir que alguns filósofos defendem que a solidão deve ser trabalhada e que devemos ser capazes de estarmos connosco mesmos dado que na maioria das situações da nossa vida o estamos. Deste modo, importa diferenciar a solidão saudável que se refere à capacidade de estar só e é uma opção de escolha que é reveladora de uma vida mental rica, introspectiva bem como da existência de uma boa relação consigo próprio. De uma solidão que advêm das circunstâncias de vida que faz a pessoa sentir que não tem ninguém com quem contar (p.e. situações de divórcio, mudança de residência, etc) e que devido a sensibilidade pessoal a conduz muitas vezes a situações de isolamento que podem ser patológicas.
Livros que falam destes temas:
- Augé, M. (1995). Não lugares: introdução a uma antropologia da sobremodernidade. Lisboa.
- White, E. (2012). Solidão: a epidemia secreta da era da conectividade.
Sem comentários:
Enviar um comentário