Objectivo do Blog

Este blog pertence a uma estudante de psicologia e pretende ser um local onde são colocados textos das diversas áreas temáticas do mundo da psicologia. O seu conteúdo é uma análise pessoal dos diversos temas junto com pesquisas em livros, internet e material académico.



quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Ideia de cientificidade em psicologia



Psicologia, ciência humana
Psicologia é uma ciência dita humana e que portanto estuda aspectos relacionados com o homem enquanto indivíduo e enquanto ser social. O ser humano é um ser complexo e constantemente incontrolável. Dado o seu carácter individual, indeterminado, inconstante e por conseguinte modificável torna-se difícil abranger um mecanismo exacto daquilo que é ou não correcto e tudo passa a ser apenas hipotético.

É certo que a psicologia, sendo considerada ciência tem que obedecer a alguns parâmetros que a própria exige. Sei o quanto importante é, mas considero que tudo é relativo e que aquilo que é visto com demasiado detalhe pode ser inibidor do próprio progresso. Estudos como Freud que apresentam problemáticas a nível ético, científico e dogmático poderão não ser científicos ainda assim foram geradores de um enorme conhecimento e evolução da psicologia. Também outros autores dentro da psicologia o foram, existiram sempre críticas aos seus estudos e sugestões para os alterar, o que se torna construtivo.

Por muito que possa ser incorrecto, o facto é que a psicologia nasceu do povo e é para o povo. Ao longo da história da psicologia, ainda que não sendo sempre científica e empiricamente testada existiu uma evolução produtiva do modo como se lida com as invariantes da vida que causam de alguma forma um desequilíbrio emocional ao individuo.

Implicações da existência da doença mental:

- Nível jurídico com a redução de penas

-Internamento nos hospitais psiquiátricos: Entre prejudicar a vida de terceiros e ir para a prisão ou precocemente ser internado num hospital psiquiátrico, qual deles será o pior? De certo o primeiro que já implicaria um dano social acrescido ao dano pessoal.

- Controlo social: Pode ser um método de controlo social, tal como todas as outras ciências ditas exactas. A própria medicina pode ter efeito de controlo social assim exista médicos predispostos a isso. Por exemplo, a profissão de nutricionista/ oftalmologia/ dermatologista quando exercida ou correlacionada com superfícies comerciais onde a nível monetário possam ser vantajosas, pode ser uma grave falha ética e pode ser susceptível de enviesamentos no diagnóstico (1). Ou seja, dependendo de cada profissional e daquilo que considera ou não ético, pode ou não ser uma forma de controlo social. Os psiquiatras e psicólogos podem até ser uma corrente de pessoas marginalizadoras que se divulgou culturalmente como profissão. Ainda assim, alguns deles são baseados na doença mental e alimentam a sua profissão disso, outros, alimentam a sua profissão das necessidades do cliente/paciente e do sofrimento por que passa.

Implicações da não existência de doença mental:

-Falta de diagnóstico e orientação de pessoas que de alguma forma não se compreendem nem são compreendidas

- Desordem quer a nível jurídico, quer a nível social e pessoal. A nível jurídico a implicação da não existência de diagnóstico de doença mental, seria motivo para os comportamentos desviantes serem considerados crimes e existiria a prisão com mais ou menos anos. Após isso e não existindo o conceito de doença mental a pessoa seria de novo colocada na sociedade e muito provavelmente tornar-se-ia um ciclo vicioso entre entrar e sair da prisão, dado o carácter desorientado e doentio do individuo.

A nível social não existiria uma forma de contribuir para a organização social e para a existência de alguma estabilidade entre as pessoas, nunca saberíamos até que ponto a pessoa que estava ao nosso lado era ou não sã do ponto de vista mental (ainda que nem sempre saibamos, a grande escala a implicação da não existência do diagnóstico e tratamento seria desastrosa).

A nível pessoal creio que seria uma falta de orientação e rumo para todos aqueles que têm algum tipo de desvio em relação à adaptação na sociedade e seria deixá-los à sua própria sorte e isso sim seria uma forma desumana de os cuidar.

- Educação familiar e escolar: Qual seria o padrão da normalidade segundo o qual os professores e pais se iriam orientar? Ainda que não exista doença mental fisicamente, considero importante esta normalidade abstracta.

Conclusão
Penso que se pensarmos no que implica a ideia da não existência de doença mental facilmente percebemos que há muito mais a perder que a ganhar e que pode ser facilmente tornada uma ideia extremista. Trata-se de uma organização social que foi construída durante anos, tendo os seus erros e virtudes mas que ainda assim parece funcionar melhor que a não existência de cuidado com as pessoas ditas doentes mentais. Foi uma das formas de evolução que fez a sociedade evoluir de uma selva para a civilização! Assim, a solução para esta problemática parece estar associada com a ética que cada profissional tem no exercer da sua profissão e depende não tanto da existência de doença mental e forma de tratamento mas sim no carácter adaptativo que cada psicólogo ou profissional da saúde tem em relação ao cliente/paciente.

A nível prático seria mais vantajoso a consciencialização dos profissionais de saúde para a forma como tratam os pacientes mentais ainda que progressivamente essa evolução já esteja em curso (de notar que alguns anti-psiquiatras, pertencem a outro tipo de realidade onde os doentes mentais nos hospitais psiquiatricos eram tratados de forma desumana, mas ao longo dos anos o modo de cuidar dos doentes tem evoluído bastante na vertente humana).



(1) - A título de exemplo mais específico posso referir as vantagens que a administração de um determinado medicamento pode ter para o médico, desde livros até a viagens promovidas pela indústria farmacêutica. A nível da exactidão da existência de uma doença fisiológica, este também é um ponto de certo modo subjectivo. Muitos diagnósticos e formas de tratamento são subjectivas, isto é, ainda que baseado em exames clínicos, os médicos sendo humanos são susceptíveis a pequenas variações ao nível das interpretações que fazem dos resultados e da forma como irão resolver o problema. Quantas não são as vezes que o próprio médico vai experimentando qual o medicamento que melhor se adequa. Nada é exacto e mesmo que a medicina seja uma ciência científica o diagnóstico e tratamento não é linear e depende da avaliação do profissional. Tal como a medicina, a psicologia e psiquiatria orienta-se através do balancear do custo/benefício e com base em percentagens. Na medicina mesmo que seja uma lesão clara e visível, o médico baseia-se na experimentação. Na psicologia e psiquiatria apesar de não existir uma lesão concreta que nos possa dizer que determinada pessoa é doente, a orientação é baseada no sucesso dos tratamentos.

2 comentários:

  1. A psicologia não nasceu do povo, nem para servir o povo...como a parte sobre o controlo social devia deixar perceber.

    Uma vez mais, tentar agradar gregos e troianos resulta em profunda incoerência.

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  2. Este nosso debate já foi alargado ainda que não se tenha chegado a conclusões. Não acreditas que a psicologia seja para o povo mas sim uma forma de coerção social ao serviço do poder, facto esse que soluciono através da ética que cada profissional tem no exercer da sua profissão. No post "Diferentes personalidades ou doenças mentais" não tinha as ideias tão claras quanto neste último.

    Ainda assim, não sou de opiniões fechadas por as considerar perigosas e gosto de perspectivar todas as hipóteses acerca de uma temática.

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