Objectivo do Blog

Este blog pertence a uma estudante de psicologia e pretende ser um local onde são colocados textos das diversas áreas temáticas do mundo da psicologia. O seu conteúdo é uma análise pessoal dos diversos temas junto com pesquisas em livros, internet e material académico.



sábado, 4 de junho de 2016

Página Profissional de Psicologia Clínica e Psicoterapia de Apoio

É com orgulho que partilho convosco a minha página profissional para que possam acompanhar o meu percurso :)

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quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Políticas educativas do avesso?


Um dos temas que mais me questiono em relação à educação escolar é sobre as políticas de ensino que apelam excessivamente à memorização e aprendizagem de conteúdos iguais para todos os alunos e sempre utilizando as mesmas metodologias independentemente das crianças. De facto muitas crianças até podem gostar de aprender mas depois devido às políticas educativas o modo como são avaliadas vai depender do modo como memorizaram um determinado conteúdo da forma como estava anteriormente estipulada. Ora, tal não é contraditório? Aprender supostamente devia ser um acto positivo que suscite interesse mas o estudar e o memorizar é um acto repetitivo com a intenção de apenas saber os conteúdos para responder no teste sendo que muitas vezes os conteúdos têm que ser exactamente descritos como o professor os ensinou dando pouca margem para a individualidade.

Deste modo, afinal o que importa é saber bem a matéria e memorizar ou, pelo contrário, é compreender, relacionar com o mundo e aplicar. Apesar dos anos passarem ainda continuam a ser os alunos que melhor memorizam aqueles que têm boas notas. Deste modo, parece que ainda que se saiba através de estudos científicos que é importante existir motivação para aprendizagem, aprendizagens significativas relacionando o que vai ser adquirido com o que já se sabe, a grande maioria das práticas educativas são transmitidas do professor para o aluno sem que este compreenda a sua utilidade e com isso adquira motivação pessoal e compreensão prática das mesmas.

Neste sentido, apesar de existirem evidências de que o ensino está maioritariamente a apelar para a memorização e não para uma verdadeira aprendizagem, continua a praticar-se um ensino excessivamente formatizado quer em termos de transmissão de conhecimentos, quer em termos de modos de avaliação. As crianças não são preparadas para o mundo exterior, não sabem aplicar os conteúdos ao mundo real e não conseguem compreender a utilidade de tais aprendizagens. Mais grave ainda, passam grande parte dos seus dias, semanas, anos na escola, sem perceberem muito bem a lógica e o porquê de determinadas matérias.

Depois admiram-se com o insucesso escolar quando o insucesso escolar muitas vezes não é mais do que o reflexo da incompreensão das políticas de ensino por parte dos alunos, o que os impede de sentir prazer em aprender e consequentemente, não se identificam com a escola e acabam por abandonar quer em termos físicos (i.e. absentismo escolar), quer em termos psicológicos (i.e. falta de motivação para estudar). Alguns, com o auto-conceito baixo em termos escolares, ainda vão compensando com o auto-conceito social e fazem grupos anti-escola que faltam às aulas por revolta e sentem-se finalmente integrados ainda que seja na própria desintegração.

Deste modo, considero que a escola deveria ser acima de tudo um local onde as crianças gostassem de ir não só pelos amigos que lá têm mas também pelo que aprendem. Em última instância deveria ser um local que suscitasse a curiosidade porque mais tarde ou mais cedo termina a escola obrigatória e depois de terem completado a escolaridade obrigatória o ideal era continuar o gosto pelo conhecimento e aprendizagem. E, se não são motivados para a aprendizagem e se a escola não se consegue adaptar às crianças, tal torna-se complicado e no fim, nada resta a não ser lamentar o tempo que se passou na escola com aprendizagens que muitas vezes em nada contribuem para o conhecimento do mundo real.

Assim, ainda que em termos teóricos se saiba a importância da aprendizagem ser adequada aos alunos, da motivação como principal força impulsionadora para a aprendizagem, da necessidade das crianças explorarem o meio e terem tempo para si próprias, o que é certo é que se tenta aprisiona-las desde pequenas e formata-las de forma igual quando na realidade todas são diferentes e todas têm interesses, motivações e necessidades distintas que importa ter em conta.

Claro que é bem mais fácil aplicar tudo de igual forma pois poupa energia, tempo e trabalho aos professores mas acaba por não surtir efeitos. De facto, sei que é difícil lidar com a diversidade mas acredito que os professores que têm verdadeiro gosto em ensinar querem realmente ensinar e não apenas transmitir conhecimentos de forma oca que depois são igualmente avaliados de forma oca. Assim, considero que o essencial é passar atitudes e valores de aprendizagem que tornem as crianças curiosas, tenham avidez em aprender e sejam  autónomas no processo de aprendizagem.

Incrível mundo da pós-modernidade

Incrível mundo da pós-modernidade onde cada vez mais temos maior quantidade de relações e menor qualidade destas. Hoje em dia, no ritmo acelerado da vida quotidiana, tudo vai passando despercebido e tudo fica conhecido aos nossos olhos de forma superficial. Existe uma superabundância de acontecimentos e uma superabundância de espaços. Facilmente através dos meios de comunicação social, conseguimos ter informações sobre várias partes do mundo, pessoas e acontecimentos, o que nos dá uma falsa familiaridade de que as conhecemos mesmo quando conhecemos apenas através do ecrã.

Contudo, as relações humanas são menos profundas pois apesar de existirem muitas “conexões”, existem poucas “relações” verdadeiras com quem saibamos que possamos contar. Deste modo, as pessoas sentem cada vez mais a solidão dado esta aparente falta de relações significativas que são essenciais para a constituição da identidade pessoal de cada um. Segundo Marc Augé tal deve-se há existência de demasiados não lugares, isto é, lugares por onde passamos mas que não têm uma identidade pessoal concreta (p.e. centros comerciais, transportes públicos, etc). Ou seja, grande parte do nosso dia-a-dia comunicamos com pessoas que raramente voltamos a ver novamente e passamos por locais onde as pessoas vão variando ao longo dos dias. Neste sentido, estamos numa multidão mas somos anónimos nessa mesma multidão.

Esta tal solidão sentida perante a multidão acontece porque para uma relação humana ser significativa deve existir uma profundidade que permita conhecermos a outra pessoa verdadeiramente, sabermos que podemos contar com ela e que ela pode contar connosco. Hoje em dia, são mais as relações que temos do que aquelas com que podemos contar e é isso que faz este mundo da pós-modernidade um dos mais ilusoriamente conectados. Ainda assim, a capacidade de nos adaptarmos ao mundo exterior é aquilo que é mais importante pelo que os meios de comunicação social se forem utilizados no sentido de promover as relações sociais podem ser benéficos para estas e não apenas vistos como destruidores destas mesmas relações significativas.

Este fenómeno começa a ser estudado pelos antropólogos, psicólogos e sociólogos sendo que existem inclusivamente algumas pessoas (p.e. Emily White) que referem que esta nova forma de vida se pode tornar patológica e que é importante distinguir entre o que é uma depressão ou o que é a solidão por falta de laços pessoais significativos. Isto é, enquanto indivíduos identificamo-nos com a sociedade a que pertencemos pelo que invariavelmente as suas características vão influenciar-nos e são influenciadas por nós. Deste modo, considero importante estarmos atentos a esta nova forma de vivência onde apesar de estarmos todos conectados existe uma falta de ligações essenciais e verdadeiras. Claro que isso depois envolve outros factores como por exemplo, a necessidade que uma determinada pessoa tem de ter essas tais ligações. Há pessoas que são extrovertidas e que precisam portanto de mais ligações enquanto que outras são mais introvertidas pelo que apesar de precisarem de ligações são personalidades que facilmente se sentem bem sem ter demasiadas relações.

Concluindo, parece então importante estarmos atentos a esta nova realidade que advêm da globalização e promovermos interacções verdadeiras dando menos importância à quantidade e promovendo a qualidade relacional. Sendo por outro lado importante compreender que esta nova realidade pode estar por detrás das questões de depressão que surgem na prática clínica sendo então este um dos motivos que devemos estar atentos para compreendermos a situação específica que está a ocorrer. Claro que esta não pode ser uma perturbação mental pode é ser um dos factores ambientais que poderão culminar em perturbações mentais ou que pode ser promovida por determinadas perturbações mentais.

Convém ainda referir que alguns filósofos defendem que a solidão deve ser trabalhada e que devemos ser capazes de estarmos connosco mesmos dado que na maioria das situações da nossa vida o estamos. Deste modo, importa diferenciar a solidão saudável que se refere à capacidade de estar só e é uma opção de escolha que é reveladora de uma vida mental rica, introspectiva bem como da existência de uma boa relação consigo próprio. De uma solidão que advêm das circunstâncias de vida que faz a pessoa sentir que não tem ninguém com quem contar (p.e. situações de divórcio, mudança de residência, etc) e que devido a sensibilidade pessoal a conduz muitas vezes a situações de isolamento que podem ser patológicas.

Livros que falam destes temas:

  • Augé, M. (1995). Não lugares: introdução a uma antropologia da sobremodernidade. Lisboa.
  • White, E. (2012). Solidão: a epidemia secreta da era da conectividade.

domingo, 15 de setembro de 2013

Quando nasce um bebé?




Antes de nascer um bebé, geralmente, já existe espaço para ele no pensamento dos pais. Muitas vezes este é um processo que ocorre naturalmente durante a gravidez e que conduz a toda uma idealização acerca do que vai ser o bebé (p.e. aspectos físicos e psicológicos), à criação de expectativas em relação ao modo como o relacionamento se irá dar e relativamente ao papel de ser mãe/pai. Deste modo, não é apenas quando existe presença física do bebé que o relacionamento entre os pais e o bebé se inicia. Assim, a partir do momento em que o bebé começa a existir no pensamento dos pais, começa a fazer parte da família e cria-se um relacionamento que, não sendo físico, é psicológico com a criança.

Esta relação é marcada essencialmente pelas representações mentais que os pais têm em relação ao filho, associadas a uma construção psíquica por eles formada tendo em conta o seu passado (p.e. o modo como foram os seus pais e como foram eles enquanto filhos) e aquilo que idealizam relativamente ao papel que irão exercer. No entanto, é quando realizam ecografias, quando sentem os movimentos fetais ou quando os médicos transmitem informações sobre o bebé que esta relação pré-natal que se estabelece entre os pais e o bebé vai sendo cada vez mais objectiva.

Por fim, quando existe o nascimento físico do bebé, o bebé idealizado pelos pais vai ser adaptado ao bebé real, isto é, vão existir um conjunto de ajustamentos entre aquilo que tinham imaginado e o bebé que finalmente está com eles. Neste momento de adaptação através das interacções físicas que se estabelecem com o bebé, o bebé dá-se a conhecer e os pais dão-se a conhecer ao bebé mas já existe, habitualmente, uma abertura psíquica por parte dos pais para receber o bebé e adaptar-se a ele, estabelecendo uma relação de trocas recíprocas que originará uma relação afectiva cada vez mais realista e intensa. Neste sentido, compreende-se a importância deste espaço mental que é atribuído ao bebé mesmo antes do nascimento e a sua importância para as relações que se vão estabelecer posteriormente com este.


Observação:

Este texto é uma pequena introdução ao tema que pretendo estudar na minha tese de mestrado. Actualmente, em termos teóricos o estudo da vinculação parental (de forma resumida significa ligação afectiva dos pais aos filhos) está mais aprofundada após o nascimento do bebé (até porque o autor deste conceito, Bowlby, refere que este apenas deve ser aplicado a partir dos 7 meses). No entanto, sabe-se que os pais antes da criança nascer já estabelecem uma relação afectiva com o bebé, que essa mesma relação determina o modo como o vão receber e que tem influência posteriormente na vinculação parental. Deste modo, uma vez que a ligação afectiva tem vindo a ser mais estudada nas mães do que nos pais e que a maioria dos estudos se focam na relação estabelecida entre os pais e o bebé depois do nascimento, pretendo contribuir para a compreensão desta relação pré-natal materna e paterna para assim perceber quando é que verdadeiramente nasce um bebé na família nuclear (mãe e pai) e quais são os factores que estão envolvidos numa maior ou menor ligação afectiva durante a gravidez.