Objectivo do Blog

Este blog pertence a uma estudante de psicologia e pretende ser um local onde são colocados textos das diversas áreas temáticas do mundo da psicologia. O seu conteúdo é uma análise pessoal dos diversos temas junto com pesquisas em livros, internet e material académico.



segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

O que importa, bem-estar ou qualidade de vida?





Segundo a OMS*:

“A expressão qualidade de vida foi empregada pela primeira vez pelo presidente dos Estados Unidos, Lyndon Johnson em 1964 ao declarar que "os objectivos não podem ser medidos através do balanço dos bancos. Eles só podem ser medidos através da qualidade de vida que proporcionam às pessoas." O interesse em conceitos como "padrão de vida" e "qualidade de vida" foi inicialmente partilhado por cientistas sociais, filósofos e políticos. O crescente desenvolvimento tecnológico da Medicina e ciências afins trouxe como uma conseqüência negativa a sua progressiva desumanização.” Para avaliarem a qualidade de vida utilizavam o questionário WHOQOL (1998) que incluía itens de domínio físico, psicológico, nível de independência, relações sociais e aspectos espirituais.

No texto de opinião que se segue, devo referir que para mim,  bem-estar é uma qualidade de vida interior que se reflecte numa melhor saúde física e mental. Enquanto que qualidade de vida é algo mais exterior associado a bens materiais que podemos adquirir.

Com o decorrer dos anos, a humanidade tem-se tornado cada vez mais poderosa e cada vez mais existe maior evolução. Paralelamente, existe um aumento do sentimento de solidão e falta de valores. Na corrida para um objectivo que não sendo nosso, a nós influência, obedecemos às leis prescritas da produtividade, deixamos de viver. Através da máxima que nos é transmitida desde crianças, trabalhamos para termos melhor qualidade de vida.

No geral, tornamo-nos pessoas frias e sem escrúpulos que ansiamos mais e melhores condições. Corremos para sermos o melhor ainda que não percebamos que tal não significa que sejamos de facto os MELHORES. Afinal, o que queremos nós? Queremos ter uma vida confortável e que sirva para enriquecer a terra ou pretendemos adquirir dinheiro para nos enriquecer a nós?

Como em todas as nossas crises existenciais de vida, agora temos uma crise mais geral, chamada crise económica que vai impulsionar mudanças à muito necessárias. Esta crise, expõe-nos à maior fragilidade que o ser humano tem e transporta-nos para pensamentos acerca do que somos.

Quantos não são os pais que abandonam a família em busca de melhores condições de vida dizendo para os filhos que “estou a trabalhar para te dar melhor conforto de vida” no entanto,  de que serve esse conforto se a nível emocional e psicológico não existiu a presença física e afectiva  que o filho precisou? Hoje verificamos que com a crise até mesmo as pessoas que trabalharam e que deram de si para ter uma determinada empresa estão ou podem estar sujeitos a falir. Somente quando percebemos que o dinheiro é uma mera troca económica entre o que damos e o que estamos a oferecer é que conseguimos passar a dar valor a nós e a enriquecer o nosso conhecimento, habilidades e personalidade. Ainda assim, é uma grande mudança que é preciso fazer e que se está a iniciar agora que estamos sem “nada” exterior. Uns vão revoltar-se, outros voltam-se para dentro e percebem que é só mesmo assim que se pode verdadeiramente EVOLUIR a humanidade.

Tendo-nos tornado verdadeiramente robots automáticos de produtividade, esta crise vem fazer questionar acerca de quem somos e para onde vamos. Afastando toda e qualquer parte económica e ambiciosa, despimo-nos de materialismos e pensamos o que realmente somos! Fazendo esse processo podemos perceber o quanto andamos perdidos, que é o que acontece com as pessoas que sem bens materiais e com o mundo orientado em torno do dinheiro, se sentem desamparadas e desesperadas.

Há que pensar em tudo isto e há que repensar sobre aquilo que consideramos ser importante na nossa vida, porque ter qualidade de vida não significa bem-estar. Quantas não são as vezes em que cumprindo um objectivo inicial a que nos propúnhamos, mal celebramos e já estamos a pensar na próxima meta? Para onde corremos? O que realmente queremos e nos faz falta?
Nada mais nos resta, apenas o nosso interior, ironicamente aquilo que existia antes de tudo o que adquirimos ao longo do tempo. Não digo que não seja importante progredir, considero que o é, apenas progredimos e tornámo-nos orgulhosos de mais, esquecemo-nos de quem somos com tanta ambição desmedida. Onde antigamente se trabalhava para  sobreviver, hoje faz-se para ostentar poder. E é isso que aos poucos nos vai tornando menos pessoas.

Qualidade de vida ou bem-estar? Contínuo a preferir a qualidade de vida e a trabalhar  para ter uma boa qualidade de vida. No entanto, à medida que o faço, apercebo-me que diminui a minha sensação de bem-estar e que deixo de ter tempo para o que realmente importa e para usufruir daquilo que trabalho.

No mesmo dilema, escolhendo o bem-estar e não a melhor qualidade de vida, penso sobre o que seria a minha vida se tivesse trabalhado mais, as viagens que poderia fazer e as coisas que poderia comprar. Mas, sendo assim teria que trabalhar arduamente para isso. Logo, estaria mesmo a usufruir ou teria perdido pequenos pedaços de MIM e da minha vida para usufruir apenas de alguns dias de descanso e bens materiais que me concedi ter?

E porque o normal é sentirmo-nos bem, há que pensar sobre esta estranha forma de vida. Basta percebermos aquilo que realmente nos faz felizes, geralmente não é assim tão dispendioso quanto a sociedade nos faz acreditar que é.

Para pensar..







*- http://www.ufrgs.br/psiq/whoqol1.html#1



Apesar de ainda não ter lido e portanto ainda não ter formado opinião sobre o livro, sugiro:
“Bem-Estar e Qualidade de Vida - Contributos da Psicologia da Saúde” de José Cruz, Saul Jesus e Cristina Nunes, sobre esta temática.




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