Objectivo do Blog

Este blog pertence a uma estudante de psicologia e pretende ser um local onde são colocados textos das diversas áreas temáticas do mundo da psicologia. O seu conteúdo é uma análise pessoal dos diversos temas junto com pesquisas em livros, internet e material académico.



segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Método de autoscopia


Definição:
A autoscopia é uma metodologia que utiliza a videogravação com o objectivo de permitir à análise das acções de um ou mais sujeitos, numa dada situação, tendo como objectivo uma análise posterior (Sadalla, 2004)*. As sessões de análise e reflexão posteriores têm como base a análise do vídeo, nomeadamente ao nível do comportamento e verbalizações. Ferrés (1996) citado pela autora, designa esta metodologia por vídeoespelho, pois tem o sentido de potencializar a auto-avaliação.

Diferença entre a utilização do espelho e do vídeo: 
"O espelho devolve à pessoa sua imagem invertida. O vídeo não. No espelho, a pessoa pode se olhar nos olhos. No vídeo não. O espelho impõe um único ponto de vista. No vídeo, a pessoa pode contemplar-se a partir de infinitos pontos de vista. (...) no vídeo vejo-me como sou visto, descubro como os outros me vêem. Vejo-me para me compreender. O fato de ver-me e de escutar- me leva a uma tomada de consciência de mim mesmo, de minha imagem, do som da minha voz, da qualidade e da quantidade de meus gestos, de minhas atitudes, de minha postura, de minha maneira de actuar e de ser." (Ferrés, 1996, p. 52; cit. por Sadalla, 2004).

Funções:
1) Avaliação de si mesmo através da confrontação da imagem de si
Linard (1974;1980), Prax; Linard (1975), Nautre (1989), Rosado (1990; 1993) e Ferrés (1996), citados por Sadalla (2004).

2)Possibilidade de uma modificação da acção pela percepção de causas e efeitos
Linard (1980) citado por Sadalla (2004)

3) Percepção de aspectos que antes desconhecia, constatação de contradições
Rosado (1993) citado por Sadalla (2004)


Importância de uma futura utilização desta metodologia:

Para Ferrés (1996), citado pela autora a autoscopia permite “o encontro consigo mesmo, o encontro com o próprio corpo e, por intermédio dele, com a personalidade como um todo. Um encontro que é requisito indispensável para a tarefa da transformação” (p. 54). Nautre (1989), citado pela autora refere que a “autoscopia permite uma tomada de consciência na busca de uma melhor consciência de si e do fenómeno do grupo” (p. 29).
Por isso, esta metodologia é uma metodologia bastante interessante do ponto de vista terapêutico, nos pacientes que manifestarem desejo de o fazer. Não só em contexto de consulta como em outros contextos assumidos como problemáticos. A análise que se faz posteriormente possibilita a consciencialização do sujeito ao nível das atitudes, comportamentos, forma de posicionar, forma de agir e forma de interagir. Auguste Comte, que rejeitava a introspecção dizendo que "Não podemos estar à janela e ver-nos passar pela rua; no teatro, não podemos ser, ao mesmo tempo, actor no palco e espectador na plateia", encontra neste método uma contrariedade à sua perspectiva. Dado que um dos principais objectivos do psicólogo é permitir que a pessoa tome consciência de si mesma e consiga tomar decisões de acordo com o que ela própria pretende, este é um método que permite o distanciamento necessário para uma análise de si mesmo de forma exacta e clara para o paciente/cliente, assim ele demonstre interesse neste tipo de metodologia. No entanto, para que esta abordagem venha a ser utilizada terão que existir mais estudos neste âmbito e terão que ser levantadas questões éticas relativas à sua aplicabilidade. Ainda assim, parecem existir vantagem, cuidados e contextos de aplicabilidade que devem ser tidos em conta.


Vantagens:
  • Imagem é prolongada no tempo
  • Registo de múltiplos acontecimentos que são irrepetíveis e que de outra forma não ficariam registados 
  • Distanciamento afectivo necessário para que exista reflexão acerca do que é observado 
  • Versatilidade durante a análise e reflexão, isto é, possibilidade de recuar, avançar, parar 
  • Permite análise crítica e intensa a nível intelectual

Cuidados:
  • Possibildiade de criar desequilíbrio psíquico em indivíduos com personalidade patológica
  • A presença da câmera pode por si, alterar o comportamento dos sujeitos 
  • A autoscopia pode ser geradora de ansiedade

Aplicações actuais:
  • Contexto sala de aula
  • Contexto desportivo
  • Formações
  • Estudos do sono 

Possíveis aplicações:
  • Patologias relacionadas com a memória, como forma de reactivar algumas conexões que ainda são possíveis.
  • Nos distúrbios relativos ao comportamento alimentar é igualmente interessante procurar uma consciencialização distinta (espelho vs vídeo).
  • Patologias da linguagem de forma a que a pessoa se aperceba do seu modo de comunicar e as suas reacções perante as adversidades relativas à linguagem
  • Bullying de forma a que as crianças percebam o modo como estão a interagir com as outras e tomem consciência dos seus actos e dos impactos que tiveram

* http://www.scielo.br/pdf/ep/v30n3/a03v30n3.pdf

2 comentários:

  1. Olá Rita,
    Gostei deste blog com este tema.
    Atualmente há muita gente nos cursos de formadores e que passam pelas autoscopias, para evidenciar os erros que cometem.
    Seria fantástico adicionar algumas dicas para ajudar quem está nessa situação :)
    Até breve
    JD

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  2. Boa tarde,
    Obrigado pelo seu comentário. Penso que o método de autoscopia em contexto de formações é extremamente importante não só para o próprio ter em conta o que fez e como fez a sua apresentação como também para discutir em conjunto com outros colegas de trabalho o que poderia ou não ter corrido melhor. Neste sentido, se for feita uma formação em grupo, importa ser feita uma análise pessoal de cada um dos elementos e depois na globalidade do grupo no geral.
    Por outro lado, é importante que ocorra um delineamento prévio daquilo que se pretende fazer na apresentação e de como se pretende fazê-la para que depois mais tarde quando estiverem a analisar sejam esses os principais aspectos de análise e tenham um maior controlo sobre o que querem melhorar.
    Importa ainda referir que este método não é só para apresentar os pontos menos bons da apresentação feita como também para o reforço dos aspectos mais positivos que ocorreram na exposição, de forma a perpétua-los e a fomentar a motivação de quem fez a apresentação :)

    Espero tê-lo esclarecido, existe ainda um livro feito pelo Instituto de Emprego e Formação Profissional, que se encontra neste link: http://opac.iefp.pt:8080/images/winlibimg.exe?key=&doc=20960&img=970

    Cumprimentos,
    Rita Antunes

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